O PONTO.
O ponto é a menor parte de um texto. É quase um nada, apenas um ponto. No entanto, é o sinal mais reverenciado neste mundo de letras enfeitadas e espalhafatosas: quem lê passa pisado pelas letras, mas pára no ponto, respeita o ponto.
Entre os pontos não existem diferenças nem preconceitos: todos os pontos são iguais. Um ponto em Times New Roman é igual a um ponto Arial ou a um ponto Verdana. Já as letras têm sérios problemas: elas nunca estão satisfeitas com o que são. Uma letra Arial inveja a Verdana, que por sua vez gostaria de ser como a Sans Serif, e por aí vai...
O ponto tem a solução de todos os problemas. Não precisa fazer plástica e nem se comparar, já que todos os pontos são iguais. Não precisa de muito espaço para viver, apenas de um ponto. Os pontos são simples e modestos: o máximo de diferenciação está na cor, mas são tão pequenos, tão nada, que nem isso importa.
Se as pessoas fossem como o ponto o mundo seria muito melhor. O ponto não tem ego, mas as pessoas têm e, por isso, são como letras. Umas são letras rebuscadas, outras têm prolongamentos, ganchos para cima, pernas para baixo. Umas se inclinam para a direita, outras para a esquerda, tudo de acordo com as suas idiossincrasias, cada uma tentando ser melhor que a outra e aparecer de uma forma diferente. A grande maioria gostaria de ser uma letra maiúscula, mas acaba mesmo sendo uma letra minúscula, sem graça nenhuma. No mundo não há muito espaço para maiúsculas. Quando muito, algumas pessoas-letras conseguem um acento, um negrito ou um sublinhado que as diferencie, e olhe lá! E mesmo aquelas que conseguem ser maiúsculas e liderar as outras deveriam baixar seu orgulho, pois na sua frente vem o simples e humilde ponto.
As letras anseiam por se relacionar e sonham com uma união ideal. Elas querem formar sílabas e palavras, querem se juntar para ter algum significado na vida. O problema é que mesmo as palavras não significam nada isoladamente. Palavras e letras só são alguém num contexto maior.
Mas depois de escrever muitas histórias, muitos dramas e muitas comédias, algumas letras evoluem. A mais consciente é o “i” que não pára de pensar no ponto. Ele almeja se tornar um ponto, vive com o ponto na cabeça. Já o “j” é uma letra apenas vaidosa. Como vem depois do “i” resolveu imitar o seu penteado achando que é moda. Coisa de letra...
O ponto se basta. Por si só é completo e realizado. Mas isso não significa que o ponto não tenha sentimentos e emoções. Quando quer atenção ele costuma ser muito assertivo: o ponto de exclamação vem brandindo uma faca para pedir atenção e o de interrogação mostra uma foice para convencer o interlocutor a responder, e assim mudam todo o tom e sentido das palavras que vêm antes... Tolas letrinhas vaidosas que pensam ser o máximo!
E o que dizer do líder de todos os pontos, o ponto final?...
Ele lidera de uma maneira muito estranha: vem sempre no fim e nunca na frente. Esse é o único caso de uma comunidade cujo líder vem atrás. No mundo das letras, as líderes - as maiúsculas – vêm sempre na frente. Elas gostam de aparecer. Mas quando não há ego, o mais importante vem no final.
E ficam lá as letras, competindo umas com as outras, tentando formar a frase mais importante do texto, sem perceber que no fim é um simples ponto que engloba tudo: o substrato do texto inteiro está contido no ponto final. O Todo está no Nada, no ponto.
As pessoas-letras deveriam se lembrar que de longe, muito longe, tudo vira um ponto. Deveriam se lembrar que as estrelas, infinitas no seu tamanho, à noite brilham num ponto e por isso são eternas. Não incomodam ninguém e ninguém as incomoda. É impossível aborrecer ou prejudicar um ponto justamente porque ali não cabe um ego.
O ponto é a janela para o infinito, o cofre da verdade. No meio do burburinho das letras, das palavras, das frases, das idéias, da dualidade das formas, há um momento de pausa onde a verdade emerge. E é apenas nesse instante de silêncio e unidade, que aquilo que não pode ser dito, apenas sentido, acontece. No ponto.
O ponto é a menor parte de um texto. É quase um nada, apenas um ponto. No entanto, é o sinal mais reverenciado neste mundo de letras enfeitadas e espalhafatosas: quem lê passa pisado pelas letras, mas pára no ponto, respeita o ponto.
Entre os pontos não existem diferenças nem preconceitos: todos os pontos são iguais. Um ponto em Times New Roman é igual a um ponto Arial ou a um ponto Verdana. Já as letras têm sérios problemas: elas nunca estão satisfeitas com o que são. Uma letra Arial inveja a Verdana, que por sua vez gostaria de ser como a Sans Serif, e por aí vai...
O ponto tem a solução de todos os problemas. Não precisa fazer plástica e nem se comparar, já que todos os pontos são iguais. Não precisa de muito espaço para viver, apenas de um ponto. Os pontos são simples e modestos: o máximo de diferenciação está na cor, mas são tão pequenos, tão nada, que nem isso importa.
Se as pessoas fossem como o ponto o mundo seria muito melhor. O ponto não tem ego, mas as pessoas têm e, por isso, são como letras. Umas são letras rebuscadas, outras têm prolongamentos, ganchos para cima, pernas para baixo. Umas se inclinam para a direita, outras para a esquerda, tudo de acordo com as suas idiossincrasias, cada uma tentando ser melhor que a outra e aparecer de uma forma diferente. A grande maioria gostaria de ser uma letra maiúscula, mas acaba mesmo sendo uma letra minúscula, sem graça nenhuma. No mundo não há muito espaço para maiúsculas. Quando muito, algumas pessoas-letras conseguem um acento, um negrito ou um sublinhado que as diferencie, e olhe lá! E mesmo aquelas que conseguem ser maiúsculas e liderar as outras deveriam baixar seu orgulho, pois na sua frente vem o simples e humilde ponto.
As letras anseiam por se relacionar e sonham com uma união ideal. Elas querem formar sílabas e palavras, querem se juntar para ter algum significado na vida. O problema é que mesmo as palavras não significam nada isoladamente. Palavras e letras só são alguém num contexto maior.
Mas depois de escrever muitas histórias, muitos dramas e muitas comédias, algumas letras evoluem. A mais consciente é o “i” que não pára de pensar no ponto. Ele almeja se tornar um ponto, vive com o ponto na cabeça. Já o “j” é uma letra apenas vaidosa. Como vem depois do “i” resolveu imitar o seu penteado achando que é moda. Coisa de letra...
O ponto se basta. Por si só é completo e realizado. Mas isso não significa que o ponto não tenha sentimentos e emoções. Quando quer atenção ele costuma ser muito assertivo: o ponto de exclamação vem brandindo uma faca para pedir atenção e o de interrogação mostra uma foice para convencer o interlocutor a responder, e assim mudam todo o tom e sentido das palavras que vêm antes... Tolas letrinhas vaidosas que pensam ser o máximo!
E o que dizer do líder de todos os pontos, o ponto final?...
Ele lidera de uma maneira muito estranha: vem sempre no fim e nunca na frente. Esse é o único caso de uma comunidade cujo líder vem atrás. No mundo das letras, as líderes - as maiúsculas – vêm sempre na frente. Elas gostam de aparecer. Mas quando não há ego, o mais importante vem no final.
E ficam lá as letras, competindo umas com as outras, tentando formar a frase mais importante do texto, sem perceber que no fim é um simples ponto que engloba tudo: o substrato do texto inteiro está contido no ponto final. O Todo está no Nada, no ponto.
As pessoas-letras deveriam se lembrar que de longe, muito longe, tudo vira um ponto. Deveriam se lembrar que as estrelas, infinitas no seu tamanho, à noite brilham num ponto e por isso são eternas. Não incomodam ninguém e ninguém as incomoda. É impossível aborrecer ou prejudicar um ponto justamente porque ali não cabe um ego.
O ponto é a janela para o infinito, o cofre da verdade. No meio do burburinho das letras, das palavras, das frases, das idéias, da dualidade das formas, há um momento de pausa onde a verdade emerge. E é apenas nesse instante de silêncio e unidade, que aquilo que não pode ser dito, apenas sentido, acontece. No ponto.